Carta:
Graça e Paz,
Preciso de ajuda e neste site encontrei algumas respostas e me senti à vontade de escrever... E desabafar.
Bem, me converti há pouco tempo (pouco mais de 6 meses), e como todo inicio, tudo é muito novo e fascinante.
Minha
vida até o momento dediquei ao estudo do espiritismo, acreditando na
doutrina de Alan Kardec que fala se tratar da terceira revelação, novos
tempos, baseados na Bíblia, etc, etc... Nos faz acreditar em
reencarnação, em comunicação com os entes queridos, que as injustiças do
mundo são causadas por nós mesmos e que temos que nos purificar para
sermos salvos. Se nascemos aleijados, por exemplo, é porque ferimos a
lei de Deus em vidas passadas e por Deus ser misericordioso permite que
nasçamos desta forma em outra vida para que possamos aprender. E muito
mais. Como deve ser do conhecimento de vocês...
Porém,
nunca tive nenhuma prova deste "mundo invisível" que eles falam e
quando ia nessas reuniões, ainda assim, me sentia vazia, incompleta,
minha vida não melhorava, me sentia angustiada... Apesar de todos os
nomes e explicações que esta doutrina me dava, faltava algo.
Também
sempre fui muito crítica quanto ao “crente”, à Bíblia, criticava mesmo.
Não entendia e não aceitava. Me achava moderna e cheia de razão.
Visitei uma igreja , mas a pregação, oração em voz alta... Bem, não me
tocou em nada e serviu apenas para ser alvo de mais críticas minhas.
Passaram-se
dois anos. E voltei nesta mesma igreja disposta a aceitar mudanças e a
enxergar o que os evangélicos tanto falam e acreditam. Aí fui tocada. E
convertida.
Muitas
coisas começaram a fazer sentido. Sei que o Espírito Santo está
trabalhando em mim, que está me modificando que está quebrando a dureza
de meu coração. Mas ainda assim cometo delitos. Ainda faço coisas
erradas, penso coisas erradas. Me explicaram que o inimigo fica
apavorado quando uma pessoa se converte e fica tentando de todas as
formas trazê-la de volta ao "mundo".
Mesmo eu ainda cometendo delitos e sendo hoje evangélica tenho salvação?
Deus está ouvindo minhas orações e querendo me restaurar?
Tenho receio de não me curar a tempo, de perder muito tempo. Mas estou me esforçando.
Toda
a minha vida me vi trabalhando em uma grande obra. Me vi ensinando
pessoas através de minha palavra, mas nunca entendi onde, nem como. Hoje
tenho esta revelação. Que é para a obra do Senhor. Não sou do tipo de
pessoa que fica assistindo a um espetáculo. Sou do tipo que está no
palco, nos bastidores trabalhando. E essa minha vontade de trabalhar
para o Senhor conflita com algumas atitudes minhas ainda que não são
puras.
Na
verdade, não me sinto digna de servir ao senhor tão impura e cheia de
defeitos. Vejo a vida dos evangélicos de minha comunidade, todos
caminhando, se purificando e eu ainda não me sinto capaz de servir
integralmente porque faço coisas erradas. Sei que é errado. Mas ainda
não consegui superar.
Pessoas
perfeitas não existem, eu sei. Mas como supero essas tentações? Como
caminho sem sentir vergonha de mim mesma e realmente trabalhar para a
obra que é o que quero?
Aguardo retorno.
Grata de atenção...
Resposta:
Querida irmã,
Eu
já freqüentei e já estudei a doutrina espírita. Tenho bons amigos
espíritas, gente séria, ética e compromissada. Tenho imenso carinho por
estes bons amigos e prezo muito o prazer de tê-los como companheiros
nesta vida.
Muitos
líderes espíritas dizem que o espiritismo não é uma religião e sim uma
filosofia. Discordo desta opinião, o espiritismo é uma religião, pois
possui sua doutrina, seus sacerdotes, sua liturgia e propaga um caminho
de salvação espiritual. Os espíritas acreditam no que todas as demais
religiões acreditam: todas elas crêem que a salvação só é possível
através dos méritos pessoais. Como você bem falou, os espíritas, e aí eu
incluiria também as outra religiões, acreditam que é necessário nos
purificar para sermos salvos.
No
caso do espiritismo, há a consciência de que este estado de perfeição é
impossível de ser alcançada no decorrer de uma vida. Observa-se que a
imensa maioria da humanidade se despede desse mundo carregando ainda
muitas imperfeições e, sendo assim, se houver apenas uma vida para
purgar suas imperfeições ninguém poderá alcançar esta salvação que
pressupõe primeiro alcançar um nível de perfeição moral que é impossível
para o homem mortal. Por isso, tem-se a necessidade das sucessivas
reencarnações para que em cada uma delas possa-se melhorar um pouco até
que finalmente seja possível estar em comunhão perfeita com Deus.
A
fé cristã não é religião exatamente por não ter este viés de
auto-aperfeiçoamento humano para poder se achegar a Deus. A religião
pressupõe que é o homem que busca alcançar o favor da divindade,
submetendo-se ao ser superior em que acredita. É o homem que se submete
ao sacrifício, seja ele moral ou físico, para agradar ao seu deus e só
depois que agrada a este deus é que ele pode obter o seu favor e a sua
salvação. Só depois de cumprir as prerrogativas dadas pela divindade é
que este homem religioso pode ter comunhão plena com ela.
Em
Cristo ocorre o movimento contrário. É Deus que se rebaixa para se
achegar ao homem. É Deus que se diminui para alcançar-nos. O próprio
Deus, manifestado em Cristo Jesus, se entregou como sacrifício perfeito,
uma vez por todas, e nos deu a ousadia de nos achegarmos perante Ele em
intimidade. Não há preços a pagar, sejam reencarnações sucessivas,
sejam orações, sejam sacrifícios, sejam preceitos morais.
Já
obtivemos a salvação unicamente pela fé neste amor e neste sacrifício
mediante o encontro com Cristo que nos faz novas criaturas. Isto nunca
mais será perdido, não somos mais escravos da lei, somos feitos filhos
de Deus.
Este
é o amor de Deus que esvazia a si mesmo e toma forma de homem, e como
homem se faz servo e, sendo servo, sofre morte de cruz para nos livrar
de quaisquer dívidas, de quaisquer medos e temores de sermos repelidos
por Ele. Este amor, sem explicações, sem lógica humana que o justifique,
chamamos Graça e o apóstolo Paulo chama de "loucura de Deus".
Assim,
te digo com base na Palavra, que mesmo em sua imperfeição você é salva,
selada uma vez por todas. Não há como perder aquilo que você não lutou
para obter. Quem é filho de Deus, jamais poderá deixar de sê-lo, assim
como os meus filhos jamais poderão deixar de ser meus, independente do
que venha a acontecer.
Este
incômodo que você sente, que eu sinto, e que todo aquele que é tomado
por esta Graça sente também, é o Espírito de Deus que habita em nós e
nos dá a disposição, o desejo, o fogo, o anseio, a fome de ser alguém
melhor. Pois todo aquele que tem um encontro visceral com Cristo, não
consegue mais andar como antes, queima nele o desejo por uma nova
vocação, uma nova ética, uma nova vida. Não como medo de condenação, mas
como expressão de amor.
O
problema é que devido à nossa natureza caída, devido ao que aprendemos
em anos de doutrinamento religioso, mesmo em muitas igrejas evangélicas,
confundimos este anseio e julgamos que é necessário praticar boas obras
para não perder a salvação ou até mesmo para alcançá-la. Tal ensino é
fruto do nosso coração que simplesmente, caído como está, não consegue
conceber uma entrega que não exige contrapartida, não consegue entender o
amor que nada pede em troca.
Dê
lugar a Deus e descanse Nele. Deixe o Espírito moldá-la a cada dia.
Entregue-se a este amor sem medo, nem barreiras, nem reservas. É Ele
quem nos faz melhor. É Ele quem opera em nós tanto o querer quanto o
efetuar, segundo Sua soberana e maravilhosa vontade.
Ele é um Pai que não abandona seus filhos.
Pr. Denilson Torres
O Evangelho Sem Máscaras
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